Parentesco Corporal e Parentesco Espiritual

Hippolyte Léon Denizard Rivail

Os laços de sangue não estabelecem necessariamente as ligações entre os Espíritos. O corpo origina-se do corpo, mas o Espírito não se origina do Espírito, uma vez que ele já existia antes da formação do corpo. Não são os pais que criam o Espírito do filho, eles apenas lhe fornecem o invólucro corpóreo. Além de gerar o corpo, os pais são responsáveis pelo desenvolvimento intelectual e moral dos filhos, ajudando-os a progredir.

Os Espíritos que encarnam numa mesma família, como parentes próximos, são quase sempre Espíritos simpáticos entre si e unidos por relações anteriores. Essas relações se manifestam pela afeição que existe entre eles durante a vida terrena. Pode acontecer também que os Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros ou separados por antipatias igualmente anteriores, e que se manifestam por aversões mútuas. Enquanto estiverem encarnados na Terra, essas aversões serão para eles uma grande provação. Os verdadeiros laços de família não são os laços de sangue, mas sim os laços de simpatia e afinidade de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e depois da encarnação. É por isso que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito do que pelo sangue. Eles se querem, se procuram e sentem prazer por estarem juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias. É um problema moral que só o Espiritismo pode explicar através das diversas existências vividas pelos Espíritos. (Capítulo IV, no.13).

Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias por Laços Espirituais e as famílias por Laços Corporais. As famílias que se unem por Laços Espirituais possuem um relacionamento duradouro e se fortalecem pela purificação de seus membros. Assim elas continuarão se relacionando no Mundo dos Espíritos e na Terra, por meio das inúmera encarnações da alma. A união das famílias por Laços Corporais é frágil como a própria matéria e termina com o tempo. Muitas vezes essa união se desfaz moralmente já na existência atual. Foi o que Jesus quis ensinar quando disse a Seus discípulos: "Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos", isto é, minha família pelos Laços do Espírito, "pois todo aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos Céus é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe".

A hostilidade dos irmãos de Jesus está claramente expressa no relato do Apóstolo Marcos quando diz: "Os irmãos de Jesus tinham a intenção de se apoderarem Dele, sob o pretexto de que Ele estava louco". Jesus, informado da chegada de Seus parentes e sabendo o que eles pensavam a Seu respeito, aproveita a oportunidade para transmitir a Seus discípulos o ensinamento sobre o ponto de vista da família Espiritual, ao dizer: "Eis aqui meus verdadeiros irmãos", embora na companhia dos irmãos de Jesus estivesse também Sua mãe. Ele utiliza a ocasião para explicar que os verdadeiros irmãos são aqueles que se unem pelos Laços Espirituais e não pelos Laços de Sangue. Não se deve entender com isso que Sua mãe, segundo o sangue, não lhe significasse nada segundo o Espírito ou que tinha por ela indiferença. Sua conduta em outras ocasiões comprova suficientemente o contrário.

Instantes Preciosos